“Comerciantes aproveitam tragédia em Xerém (RJ) para aumentar preços; polícia faz ação para reprimir crime”
“Ministro garante corte de 20% na conta de luz a partir de fevereiro”
1) Em caso de escassez, quem merece o que há disponível?
É meio redundante enumerar as vantagens da liberdade, em qualquer contexto. Mas, em relação à liberdade de mercado, dados os muitos ataques que ela sofre, vale a pena um esforço adicional.
Num ambiente de livre mercado, o que ocorre? Basicamente, uma pessoa P1 que detém certo bem A está disposta a trocá-lo por outro bem B, ou por uma certa quantia em dinheiro, e outra pessoa P2 detém o bem B ou certa quantia em dinheiro e está disposta a adquirir o bem A. Elas se encontram, fazem o acordo voluntariamente, e, vejam só: ambas saem ganhando com a transação! Ambas estavam com um bem que queriam dispensar (lembrando que dinheiro também é um bem) e passaram a ter um bem que desejavam. Ademais, não faria sentido realizar a transação se qualquer uma delas se sentisse prejudicada — daí a importância de ser um acordo voluntário.
Vamos ampliar o escopo. Suponha uma loja, ou seja, um estabelecimento que se especializa em vender coisas. Nela, está-se vendendo o bem A a um preço de $ 3, por exemplo. Se vê que as pessoas estão comprando muito do bem A, a ponto de fazer uma fila de contornar o quarteirão, e, além disso, percebe que o estoque está limitado, é muito racional que o lojista pense:
“Todos esses consumidores avaliam o bem A em mais que $ 3, pois, caso contrário, não estariam aqui, perdendo seu tempo na fila para adquiri-lo. E logo vai acabar o estoque. Eu queria que comprasse o bem A quem realmente acha que ele é mais valioso, quem realmente precisa dele; como faço?”
Se o lojista sair perguntando na fila, um por um, se cada consumidor precisa mesmo do bem, é claro que todos dirão que sim. Não há como medir objetivamente quanto cada um valoriza o bem para comparar interpessoalmente. Mas aí vem o estalo: quem precisa mais do bem, que o valoriza mais, está mais disposto a pagar um preço mais alto. Assim, se pensarmos em termos de justiça distributiva, uma vez que o bem é escasso e não pode ser dado a todos que o desejam, o preço é o critério de decisão mais limpo, claro e objetivo.
Vamos para uma situação mais realista? Suponha que nosso lojista seja um frentista vendendo gasolina a $ 3 por litro, e que a cidade tenha sofrido um desastre. Suponha, ainda, que ele veja, logo nos primeiros lugares da fila, pessoas que já abasteceram seus tanques nesta semana e, mais ao fim da fila, o seu Zezim, motorista da ambulância do hospital local. Consciente da capacidade de seus tanques subterrâneos, o frentista sabe que seu Zezim vai acabar ficando sem gasolina, e sabe que, com certeza, ele vai dar mais valor para a gasolina do que os “folgados” que só querem garantir o passeio do fim de semana. Ora, dado que a gasolina pertence ao frentista (e, portanto, ele vende a quem quiser, por quanto quiser), ele decide colocar o litro do combustível a $ 6. Com isso, 70% da fila desaparece (quem vai embora comenta “é melhor ir passear de bicicleta”, ou, então, “vai chover no fim de semana, mesmo”), e seu Zezim, que precisa da gasolina de qualquer jeito, abastece a quantidade desejada, e vai prestar seu serviço de socorro a quem dele necessita.
Se vivêssemos num país civilizado, que respeitasse os direitos de propriedade e a liberdade pessoal, essa história poderia ser verdadeira, e seria muito natural para nós. Entretanto, o que ocorre é o contrário: as pessoas na fila pensam que elas têm direito a comprar a gasolina, pelo preço que elas acham que é certo! Aí, o Estado, por meio de seu braço armado, prende o pobre frentista (que só tentou fazer a distribuição mais justa de um bem que, repito, era seu!) e ainda o proíbe de vender a mercadoria escassa (ou seja, nem seu Zezim, nem os folgados terão acesso a ela).
Basicamente, o Governo não quer deixar que o mercado resolva a situação de escassez que o Governo não consegue resolver. No fim, o que vemos é uma total ignorância sobre o mais básico da lei da oferta e da procura: um bem mais escasso tende a ficar mais caro. Ponto! Isso é algo tão óbvio que fico até com medo de meus três leitores fugir, pensando que estou subestimando suas inteligências. No fim, é a inteligência dos agentes do Estado é que é bem mínima, mesmo…
2) Quando há risco de desabastecimento, quem decide os preços deve fazer o que com eles?
Bom, que acompanha este site já viu que estamos correndo risco já anunciado de falta de energia elétrica. O problema nem é energia a ser gerada; essa tem, e de sobra. O problema é infra-estrutura para transportar essa energia do ponto de produção (geração) aos pontos de consumo. Ou seja, o Governo é incapaz de pensar “macro”; se consegue lembrar uma coisa, esquece outra. Incompetência é isso, certo?
De qualquer forma, como ocorre com qualquer mercadoria que é produzida mas não consegue ser escoada para seu mercado consumidor, a tendência de quem controla a circulação é segurar um pouco as vendas, reduzir a procura pela mercadoria, pelo menos até o problema de transporte ser resolvido. No mercado livre, isso ocorre com o mecanismo de preço (como já disse acima, o mais objetivo e justo). No caso da energia elétrica, cuja precificação o Estado toma para si (o que não significa que ele saiba fazer isso), caberia ao Estado controlar a demanda por energia, fazendo com que o consumo se restringisse “naturalmente”, sem forçar racionamento. Como? Aumentando os preços, oras!
Mas o Governo não nos decepciona: seguidamente defendemos neste blog que o Governo é incompetente, e a cada dia ele se mostra mais incompetente no cumprimento das funções que arroga para si. Forçando de todo o jeito o aumento da produção agregada (o famigerado PIB), percebendo que suas políticas expansionistas não funcionam (afinal, é uma ação do Governo; não funciona por construção!), quer reduzir os preços dos produtos pela via dos custos. Decisão até perspicaz, mas executada do jeito errado (claro! hahahahahahah…): em vez de reduzir os tributos, que são o grande roubo que a população sofre, quer empurrar uma redução no preço da energia, num momento em que tudo indica que a energia vai faltar!
Conclusão? Ora, os gráficos do Governo devem estar, mesmo, lá com a Alice, no País dos Espelhos! ’Tá tudo invertido! No fim, é como Milton Friedman disse uma vez: se você colocar o Governo para administrar o deserto do Saara, em cinco anos vai faltar areia por lá.